sexta-feira, 1 de julho de 2011

Comentário sobre o espetáculo "Eldorado"

  Durante a semana do Festival Ruínas Circulares, todos os alunos assistiram aos espetáculos apresentados, cada um escolheu o de sua preferência para escrever um pouco sobre ele. Após os trabalhos serem entregues e avaliados pela professora Ana Mundim, trocamos os trabalhos uns com os outros para escolher qual tinha mais a cara do blog. Acabamos escolhendo o meu - Carol Vaz.

  Boa leitura a todos!   

  Dentre todas as apresentações que vi, escolhi escrever sobre o espetáculo "Eldorado", um monólogo com o ator Eduardo Okamoto. Pois foi o trabalho que mais percebi uma grande modificação no corpo, e na voz do ator para a interpretação do personagem. O cenário em que se passava a peça era simples, todo preto. A iluminação era feita por uma luz amarelada que se manteve durante todo o espetáculo, e que dava a impressão do personagem estar andando por um sertão ou deserto.
   O figurino usado era uma calça marrom dobrada, uma camisa bege também dobrada, e uma bolsa de pano que o ator carrega dentro uma manta amarela. As peças tinham aparência de velhas, usadas, e os pés estavam descalços, o que combinava com a aparência pobre do personagem. Não havia som algum, além da voz do ator e do som do instrumento usado(rabeca).
   O espetáculo conta a história de um homem cego e solitário, que tem o sonho de encontrar o tesouro Eldorado. Sua única companhia é a rabeca, que se assemelha a um violino. O cego a chama de Menina, e age como se ela fosse um ser humano, que fica triste, feliz, contrariada, com sono; e todos esses sentimentos são causados pelo diálogo entre os dois.
   Toda a apresentação gira em torno de uma busca incessante para chegar ao Eldorado, que na imaginação do personagem é um tesouro enorme, cheio de jóias e ouro em pó. Durante uma, das muitas caminhadas para alcançar o devido objetivo, a Menina sugere ao companheiro que tire a sua "roupa" (capa própria do instrumento). O cego envergonhado aceita a sugestão, e ao tocar em seu corpo nu suas cordas vibram, e ele descobre que a Menina tem uma "voz" linda, e também "canta" muito bem. O espetáculo termina com os dois voltando para casa, o cego aconchega a sua Menina na cama se deita ao seu lado e dorme.
   Na minha opinião, o trabalho corpóreo-vocal do ator foi excelente, suas expressões corporais, faciais, e a sua voz modificada não entraram em contradição em nenhum momento do espetáculo. Esses foram os principais fatores que prenderam a minha atenção à peça. Percebi relações entre o trabalho corpóreo-vocal do ator e algumas disciplinas, como Corpo-Voz I e a incrível modificação da voz do ator, que ao mesmo tempo fazia expressões faciais pouco comuns. Penso que essas expressões dificultam a sonoridade da voz, o que pelo menos por mim não foi percebido na peça.
   A forma como o ator andava me lembrou o exercício de enraizamento dos pés, que fiz nas aulas da disciplina Dança Contemporânea – Técnica e Composição, e a forma como ele se levantava e voltava para o chão, me lembrou os movimentos de alavanca e de queda e recuperação.
   Conversei com o ator Eduardo Okamoto sobre o processo de criação desse espetáculo. Ele me contou que tudo começou em uma de suas aulas semanais, quando escolheu por um acaso a rabeca como objeto de pesquisa. Seu interesse por esse instrumento cresceu, a ponto de Eduardo viajar para uma cidade onde tocar rabeca é uma tradição. Com o grande número de rabequeiros no local, Eduardo pôde aprofundar sua pesquisa, aprendendo mais sobre esse instrumento, sobre como é fabricá-lo e tocá-lo, e também sobre a vida desses homens.
   Rabequeiros esses que serviram de grande inspiração para a criação corpóreo-vocal do ator, que se apropriou do modo de como um rabequeiro velho andava, da voz de um outro tocador e da expressão facial de um terceiro, que era cego. No estudo desses elementos, Eduardo percebeu que andava muito, o que lhe remeteu a idéia de estar buscando algo, algo que, por mais que se andasse, por mais que se buscasse, jamais seria alcançado, como o Eldorado.